F az pouco tempo que as aflições cessaram, foi até necessário esse passamento. Descansaram os vivos, descansou o que estava morrendo. Restaram as recordações de mais de meio século que são recuperadas a cada instante, nas conversas, no silêncio da noite feito um livro imaginário, que lentamente é virado de folha em folha. Agora momentos bons! Dizem que "dos mortos ninguém fala se não o bem." Como ele era importante! Como alegrava a casa! Resolvia todos os problemas! Tinha carinho para a esposa, para as filhas, para os amigos, para todos! Não demonstram, mas agora choram a sua partida, não imaginavam as consequências da falta, e a sua ida sem volta. Não sabem preencher os espaços que estão vazios. Têm medo de abrir a porta para ganhar o mundo. Falta-lhes o hábito de fazer conta, nem aprenderam a contar dinheiro, vivem a remexer lembranças, o tempo inteiro. Estão a chorar em cada canto, dominadas por um pranto, que não sai e angustia. No rolar dos dias, ficam a cultivar a solid...