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Mostrando postagens de outubro, 2013

DIFERENÇAS

Esses dias eu estava ouvindo uma música sertaneja daquelas antigas. Gosto desse gênero de música: o sertanejo raiz; não o sertanejo universitário, porque a maioria de suas letras são de uma pobreza lastimável. A letra mostrava a decadência e a tristeza que o progresso trouxe ao sertão. Saudade da boiada que percorria quilômetros e quilômetros andando por estradas de chão batido. Hoje os bois seguem engaiolados em caminhões boiadeiros e o romantismo do passado quase desapareceu. Um verso me chamou atenção, pela facilidade que se tinha de tornar agradável até aquilo que tanto atormenta atualmente: “O asfalto vai apagando o encanto da poeira”. Verso interessante e metafórico, que proporciona uma profunda análise! Voltando para o sertanejo atual, mais para o cantor sertanejo homem, a preocupação é mostrar-se um ser viril, querer provar à mulher que se ela quiser fará sexo até que ela peça para parar. É essa a linha geral das letras: o machismo do homem prometendo submeter a m

DÚVIDA

Nos fundos da minha casa há um espaço onde fiz um aterro e plantei grama. Ficou um lugar de sete por treze, de puro verde onde há um pé de ipê e uma pequena horta, beirando o muro. Ali a Lu cultiva temperos, rúcula, almeirão, alface e outras variedades que saem viçosas pela quantidade de adubo orgânico que coloca e também pelo cuidado que tem. Nesse calor úmido de Florianópolis não tem nada que não sai bem e quando a isso tudo se acrescenta o zelo, a coisa explode. Deixamos de comprar temperos e saladas também. Tudo sem veneno, tudo produto natural. Mas o que também me chama atenção é o gramado verde. Está lindo e bem cuidado. O ipê, agora no início da primavera, apresenta-se ainda quase sem folhas. Por entre seus galhos coloquei uma casinha de madeira que comprei numa floricultura aqui do Campeche, apropriada para por comida e alimentar passarinhos. Depositei uma quantidade de quirera e não levou muito eles começaram a chegar.  Inicialmente vinham ariscos e voavam assim q

OS PRIMEIROS PASSOS

Hoje (18/10/2013), meu neto Pedro, para nós, Pedrinho, ensaiou os seus primeiros passos. Foram seis, que emocionaram a mãe Alice. Ligou-nos do Rio de Janeiro para dar a notícia e chorava e chorava de alegria. Lembrei-me da frase dita pelo americano Neil Armstrong quando  dos primeiros passos na Lua: “Este é um pequeno passo para o homem, um passo gigantesco para a humanidade” . Guardadas as devidas proporções, foi uma coisa parecida o que ocorreu com o nosso Pedro. A emoção que levou a Alice ao choro foi parecida com a sentida pelo astronauta americano. O primeiro passo é sempre o mais difícil, mas, sem dúvida, o mais importante e decisivo. Continue, Pedrinho, e não pare mais. Dê passos atrás de passos; passos firmes que te possibilitem subir montanhas, ou descer as serras. Passos que lhe facilitem percorrer os vales e conquistar os picos. Parabéns Alice, parabéns Fausto. Coragem, Pedro !

DECRETO ESTABELECE ELEIÇÃO

Santa Catarina - quase sempre na vanguarda da educação nacional - estava na retaguarda quanto à forma para escolher seus diretores de escolas estaduais. Apenas Amapá, Maranhão, Paraíba, Sergipe e Tocantins, agora, indicam seus diretores politicamente.  Ao estabelecer esse rompimento, não o fez de uma forma democrática. Limitou-se a um Decreto. Por essa razão, em que pesem as explicações e justificativas tanto do Governador quando do Secretário da Educação, os professores e suas principais lideranças, parecem não estar satisfeitos. Explicam seus descontentamentos dizendo que o tema, tão complexo e problemático, não foi debatido entre o setor envolvido, não nasceu nas bases, nem passou pelo consenso de quem poderia oferecer inestimáveis contribuições e aperfeiçoamentos.  À primeira vista, analisando o Decreto, a impressão que se tem é que ele estabelece uma caminhada muito lenta: a escolha será em 2015 e a posse dos novos diretores acontecerá em 2016. Também para essa demora o S

CIDADE MARAVILHOSA?

Passei, recentemente, vinte dias no Rio de Janeiro. Conhecia a cidade muito superficialmente, resultado de algumas viagens de trabalho.   Conhecê-la com mais profundidade sempre foi meu grande desejo, mas para que isso fosse possível, o bom mesmo seria morar ali. Todavia, baseado nesses poucos dias, atrevo-me a emitir algumas opiniões. O Rio de Janeiro possui coisas maravilhosas, mas também muitas tristes. É o “Bem” e o “Mal” presentes num só lugar. Uma cidade que simula soluções sem mostrá-las. O carioca parece não ter uma dimensão exata do valor das coisas. Tudo ali tem preço astronômico: A diária num hotel é a mais cara do Brasil. O valor dos imóveis atinge importâncias absurdas (domínio absoluto do ramo imobiliário que estabelece preços sem a preocupação com a realidade). A mão de obra é caríssima e de péssima qualidade. Quase ninguém dos que assumem compromissos chega no horário e muitas vezes nem aparecem (não justificam os atrasos nem as ausências, primando pela irrespo

NA ANTEVÉSPERA

Florianópolis tem um perfil de cidade diferenciada. Essencialmente voltada para o turismo, explora a potencialidade de suas praias e se prepara, durante um longo período, para poder receber os turistas na temporada. Não só o poder público trabalha nesse sentido, mas o comércio, a rede hoteleira, os restaurantes e similares e as pousadas. Essa preparação não está apenas voltada ao bom atendimento, mas, particularmente, objetiva oferecer um diferencial capaz de proporcionar lucros financeiros. Esse período de preparação que antecede à temporada caracteriza-se como um tempo de agitação interna. São reformas, novas construções, divulgações em sites que oferecem os serviços. Famílias chegam a disponibilizar suas residências -, passando a viver em lugares mais simples -,  para obterem um lucro extra. Mas uma preocupação que atormenta Florianópolis é a previsão do tempo. Saber como será o dia, como se comportará o dia seguinte e a semana: se chove ou faz sol, se esquenta ou faz fri

PERPLEXIDADE

O mineirinho chegou ao Rio de Janeiro e ficou encabulado.  Vinha de uma cidade pequena onde conhecia quase todos os habitantes pelo nome e espantou-se com aquilo tudo.  Ainda durante a viagem matutava quase não acreditando que estava por conhecer a Cidade Maravilhosa. Um paraíso de belezas naturais e mulheres bonitas. Praias, sol, mar de águas quentes e calmas. Que felicidade a sua! Maracanã, Leblon, Ipanema, Copacabana. Até o Aterro do Flamengo, Botafogo, Laranjeiras e a Lapa. Seu ônibus parou na Rodoviária quando o dia já começava. Não fosse um velho amigo que o esperava, não saberia dar um passo naquele tumulto. Olhou para os lados e teve uma sensação de medo. Mas estava disposto a mudar de vida. Sua terra não lhe oferecia qualquer possibilidade. Não tinha emprego e quando aparecia algum, pagavam tão pouco que ninguém se encorajava de enfrentar.  No Rio a coisa seria diferente. Faltavam profissionais e o preço quem estipulava não eram os patrões.   O ambiente da Rodoviá

O QUADRO

O mineirinho acabara de chegar ao Rio de Janeiro, vindo da sua cidade natal. Jeitoso ele, macio no falar, um verdadeiro mineiro do interior. Não conhecia a Cidade Maravilhosa, mas ouvira dela muitos comentários. Vinha atrás de serviço. Era pedreiro e essa profissão estava sendo muito disputada. Cansara de fazer bicos na sua cidadezinha sempre mendigando favores e a promessa ali era de bom dinheiro. Fixou morada num dos quartos de um apartamento que seria reformado e que acertou para fazer o serviço. Não gastaria com aluguel e estava na boca da obra. O contratante havia concordado em troca de preço mais baixo na empreitada. Era um apartamento antigo. Paredes grossas e resistentes, mas a exigirem muitos reparos. Teria que mudar os encanamentos de água, a instalação elétrica, refazer os banheiros, a cozinha e uma série de outras coisas pequenas. Era muito trabalho. O antigo proprietário havia deixado todos os móveis dos quartos e o novo dono decidiu que era só um trato nas ma

O MENINO SAPECA

A meninada, naquele tempo, vivia uma vida de criança diferente. Não tinha nada dessas coisas modernas que o progresso oferece para se divertir e passar o tempo.  Nem existiam as leis tão exigentes, sempre a proteger a classe mais indefesa. Pois o Rodolfo nem completara dez anos e já parecia dono do seu nariz. Fazia coisas que nem gente grande se atrevia. Gostava de bola e passava quase todas as tardes correndo atrás dela nos campinhos da cidade onde morava. Eram quase todos meninos da mesma idade os que participavam das peladas e quando chegava o entardecer , se dirigiam para suas casas cansados e normalmente com escoriações pelo corpo. Rodolfo também apreciava nadar nos riozinhos do lugarejo.  Mas esses rios eram tão pequenos e rasos que a solução era construir açudes provisórios.  Enquanto a água ia represando por causa das tábuas que colocavam, por algum tempo faziam o curso do rio subir e aproveitavam para nadar. Banhavam-se nus. Executavam saltos mortais quando a represa

RECOMEÇANDO

Desculpem-me pela parada. Eu queria, mas também não queria escrever. Foi por isso que me dei um tempo. Quando se está na dúvida é melhor calar.   Mas escrever sempre foi uma paixão, por isso, vamos continuar. Agora me aposso de uma taça de vinho. Saboreio-o nesse final de tarde, quase noite, e concluo que finalmente estou livre. Aposentado.  Escolhi morar em Florianópolis. Quase não conheço ninguém aqui, mas os que tenho são especiais. Bastam-me, mas preciso ligar para o Álvaro para um papo num desses finais de semana, a fim de esquentar nossa velha amizade. Para o Tiné também. Mora perto de minha casa. Japonezinho meio doido que morou um tempo em Porto Brasílio, distrito de Querência do Norte, produzindo mel nas ilhas do rio Paraná e um dia sumiu sem deixar endereço. Quem o descobriu no Campeche, foi o Zé do Lídio. Como disse acima, agora estou oficialmente aposentado. Aos 65 anos e 42 anos de serviços públicos. Considero-me um privilegiado. Quantos não conseguiram isso! Co