RECOMEÇANDO
Desculpem-me pela parada. Eu queria, mas também não
queria escrever. Foi por isso que me dei um tempo. Quando se está na dúvida é
melhor calar. Mas escrever sempre foi
uma paixão, por isso, vamos continuar.
Agora me aposso de uma taça de vinho. Saboreio-o nesse
final de tarde, quase noite, e concluo que finalmente estou livre. Aposentado.
Escolhi morar em Florianópolis. Quase não conheço ninguém aqui, mas os que
tenho são especiais. Bastam-me, mas preciso ligar para o Álvaro para um papo
num desses finais de semana, a fim de esquentar nossa velha amizade. Para o
Tiné também. Mora perto de minha casa. Japonezinho meio doido que morou um
tempo em Porto Brasílio, distrito de Querência do Norte, produzindo mel nas
ilhas do rio Paraná e um dia sumiu sem deixar endereço. Quem o descobriu no
Campeche, foi o Zé do Lídio.
Como disse acima, agora estou oficialmente aposentado.
Aos 65 anos e 42 anos de serviços públicos. Considero-me um privilegiado.
Quantos não conseguiram isso! Comecei como professor em Querência do Norte. Nas
campanhas políticas votaram em mim e fui vice-prefeito e depois prefeito da
cidade. Em Curitiba, trabalhei na Secretaria de Educação Estadual, removeram-me
para o Conselho Estadual de Educação onde cheguei a Secretário Geral, na época
do presidente Romeu Gomes de Miranda. Nessas alturas, ocupar um cargo foi
a recuperação do “ego”.
Seu sucessor manteve-me Secretário porque não conseguia
pedir o cargo. Um dia solicitei para sair e ele aproveitou a deixa. Fui
trabalhar na vice-Governadoria do Estado, no Palácio Iguaçu, mas não gostei e
pedi novamente para sair.
Com o saco cheio, já sem paciência para conviver com
situações estranhas, pus o pijama. Faço agora aquilo que muita gente gostaria
de estar fazendo: passeando, andando pela praia, lendo livros sem parar, pescando,
dormindo até mais tarde, e, a partir de agora, dando mais atenção ao meu blog.
Não tenho ninguém para prestar reverências. Não preciso
mais sufocar meus pensamentos nem controlar a língua. Faço aquilo que acho bom,
sem a preocupação de agradar grego ou troiano.
Não consegui ficar rico, mas
também não passo fome. Não tenho partido, não corro atrás de emprego, nem de “benesses”.
Consegui chegar ao pico e faço uma viagem tranquila de retorno ao vale. É um
lugar mais sossegado, longe das turbulências.
Comentários