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Mostrando postagens de outubro, 2014

A REVELAÇÃO

O homem completava noventa anos alternando leito de UTI e quarto de hospital. Raramente tinha alta e quando isso acontecia a casa virava uma confusão que se prolongava pelo dia e durante a noite. O doente não conseguia ter sossego físico nem espiritual. Reclamava de dores, mexia-se na cama, soltava gemidos que dificultavam até o sono dos vizinhos. A família já não suportava aquela situação.   Num dos raros momentos de paz e lucidez, o homem chamou uma de suas filhas, na tentativa de buscar o seu sossego espiritual. Conto o que aconteceu: - Você precisa ir à cidade de Village, procurar uma pessoa que mora no convento das freiras redentoristas, chama-se Hortência. Ao encontrar-se com ela, não fale nada além de informá-la que você é a minha filha mais velha. Nos dias que se seguiram a mulher ainda procurou saber detalhes daquele pedido, mas o pai não falou uma palavra sequer, além da insistência da viagem, ao perceber que a filha demorava. Certo dia, para desincumbir-se da

REPLANEJAMENTO

Estou me sentido novamente um pássaro livre. Levanto cedo: seis hora, chimarrão, notícias, resultados finais das eleições. Chateado, mas livre e descompromissado. Meu candidato não foi eleito, porém, certo do dever cumprido. Enquanto tomo meu mate, a Lu na cozinha prepara o café. Paro: fazer o quê hoje? Entregar-me à irresponsabilidade? Fazer as unhas dos pés, das mãos. Separar as roupas para as doações? Refazer as rotinas das caminhadas pela praia? Sentir novamente o mar, a areia, o sol e o vento? E pensar? Preciso pensar também. Programar os passeios, fazer alguns reparos na casa. É necessário concluir o pergolado que as atividades políticas haviam paralisado. E o abandono que ficou a grama! Até os passarinhos não tiveram sua quirera diária. Dessa vez acho que paro. Havia prometido parar, mas não parei. Política no sangue, parecendo um viciado. Garrafa térmica já sem água. Cuia com erva já passada. Ouço o chamado da Lu avisando que o café está pronto.  Vamos lá!