SONHO MALUCO

O homem acordara lá pelas quatro da madrugada, muito aflito. Pescoço a escorrer lhe largo suor e os cabelos completamente molhados. Em meio à escuridão do quarto, sentiu que também o colchão onde dormira encontrava-se molhado. Pode vislumbrar a silhueta da esposa sentada no lado oposto da cama,  que lhe fazia carinhos e o convidava para que  fosse sentar  ao seu lado. Dissera-lhe estar com insônia e se preparava para levantar. Havia tido um sonho também, mas não conseguia lembrar-se dele.  O homem sentiu um leve estremecimento e disse que também havia sonhado, lembrando-se  de todos os detalhes. 
- Gostaria que me contasse -, falou ela -, aparentemente curiosa.
Enquanto as luzes iam sendo acesas e os travesseiros e lençóis amontoados pela situação  lamentável que se encontravam, ele sentou-se ao lado da mulher e  começou a relatar seu sonho. 
Eu estava  numa rua estreita e antiga, com pedras de paralelepípedos irregulares, cheia de buracos que dificultavam o trânsito. Empurrava um carrinho desses de supermercado, muito velho que já tinha  as rodas enferrujadas. Apesar de todo o meu esforço,  o carrinho se recusava a seguir em linha reta. Enquanto uma das rodas ia para um lado, a outra cismava ir para  frente ou para o lado contrário. Com frequência uma delas caía num dos buracos e se tornava quase impossível prosseguir.  Dentro estava uma mulher idosa e gorda, de feições estranhas, completamente despreocupada com as minhas dificuldades. Não falava uma palavra, indiferente a olhar o vazio. Quando o carrinho ficou preso num dos tantos buracos daquela  rua, pedi-lhe que descesse. Não obtive nenhuma resposta. Manteve-se calada, nem sequer olhou-me. Voltei-me para um conhecido que se encontrava no outro lado da rua pedindo que me ajudasse. Quando chegou disposto e risonho, constatei surpreso que a mulher havia desaparecido. 

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