TRANSPORTE URBANO

                                                              Ônibus ligeirão

Hoje resolvi ir ao trabalho utilizando o ônibus. Curitiba tornou-se conhecida e famosa nacionalmente por causa do sistema de transporte urbano que implantou.

Estou quase convicto que ir todos os dias de carro até o local onde trabalho não será uma tarefa fácil. Por isso resolvi fazer um teste.
São doze quilômetros, que normalmente gasto uma hora para percorrer. Depende do horário, às vezes cai para quarenta e cinco minutos, mas chega a demorar uma hora e vinte. Os nervos quase não suportam uma situação dessas.
Dificilmente se encontra motorista normal e calmo no trajeto. Todos loucos para chegar vão buzinando, xingando, fazendo ultrapassagens arriscadas, passando no vermelho.

Pois no ônibus com o qual me dirigia para o trabalho tive a sorte de encontrar um banco e me sentei confortavelmente. Não demorou muito, os corredores estavam cheios. Um empurra empurra sem fim.

Quando o sinal fechou, aproximou-se outro coletivo que parou muito  perto. Não ficou mais que vinte centímetros do meu. Pensei que iria bater ou arrancar o retrovisor. O motorista do outro ônibus estava a menos de meio metro de mim. E sabem o que estava fazendo? Certamente estará pensando que aguardava cheio de expectativa o sinal abrir. Eu sempre fico assim quando espero no sinaleiro. Cuido e torço para que o verde chegue logo. É uma ansiedade repleta de expectativa o tempo todo, coisa que nunca consegui dominar em mim.

Pois o motorista do ônibus do meu lado lia um jornal. O veículo dele estava com tanta gente que não cabia um fio de cabelo. Quando o verde chegou, simplesmente colocou o informativo no seu colo e foi andando e lendo. Os passageiros, achei, nem perceberam.

Diante disso, fiquei a pensar: está aí a razão pela qual tantos coletivos batem provocando acidentes diários pelas ruas de Curitiba. Como um motorista conseguirá parar numa emergência se dirige lendo jornal? Mas não é só isso. Na minha viagem de doze quilômetros, o veículo no qual eu estava passou por três sinaleiros que já estavam no vermelho.

Outra causa, descobri nessa minha aventura: a velocidade. Dirigindo meu carro eu não corro tanto. Fiquei sabendo que eles são obrigados a apressar porque têm horários para cumprir. Se atrasarem pagam multas.

Pus-me  a pensar nas contradições reinantes e na gradativa dificuldade que terão esses coletivos dirigidos por pessoas que estão totalmente estressadas, que xingam a toda hora chamando os condutores dos carros pequenos de barbeiros. Que não aparentam ter qualquer preocupação com a "carga" que transportam. E não tive outra conclusão senão que: os acidentes vão aumentar, o tempo para se chegar será ampliado até a hora que não será possível se mexer. Será um triste cenário de ruas cheias e paralisadas.

As cidades grandes se tornarão inviáveis, por que, ao invés de se buscar alternativas que possam desafogar as ruas, o governo, numa atitude completamente descabida, continua incentivando a aquisição de carros novos, retirando impostos para que a compra seja cada vez mais acessível. Enquanto isso mantém os altos impostos sobre os medicamentos, sobre os alimentos e outros produtos considerados essenciais.

Não se trata de ser injusto querendo retirar dos menos favorecidos o direito de possuírem um veículo, o que precisa existir é coerência. Politicamente, está agindo como faziam os Césares do antigo Império Romano, que para acalmar e dominar a população davam-lhes “pão e circo”.

Estará me perguntando se gostei da viagem. Falar o quê? De ônibus o tempo é até mais curto. É possível fazer um exercício de descarregamento de atrapalhos durante o percurso. Consegue-se passar um período de espera e observação. Ver coisas que não vemos quando dirigimos. Pode-se até filosofar sobre a situação e achá-la hilariante. Observar e analisar aquela diversidade de passageiros: uns engravatados; outros, esfarrapados, misturando-se num atropelo de barulho silencioso e ter que admitir que esse tipo de transporte seja um dos melhores, se não for o melhor do Brasil.

Como serão os outros diante da observação e conclusão de que ali no interior daquele coletivo não se vê uma viva alma alegre, predominando o olhar de insegurança e até de revolta e insatisfação? Uma massa apreensiva e triste; indefesa e sem alternativas: pende coletivamente para um lado nas curvas, aperta-se comprimindo nas freadas e arrancadas. Frequentemente os alto falantes alertam contra furtos e roubos. Retorna uma valsa vienense para acalmar as coisas. Alternâncias de sinais, freadas, paradas, xingamentos.

- Próxima parada: Comendador Fontana. Ufa... é a minha! Quase não consigo sair porque querem entrar. Na rua, quando volto a mim, o coletivo já está longe.
- Veja, parou outro. Descarregamento e carregamento desenfreado. Olho para o motorista. Pasmem, está ao celular.

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