DESPEDIDA DO OUTONO

O término do outono na natureza é sempre perceptível. Todo mundo sabe que as árvores perdem suas folhas e se recolhem. Mas antes que isso aconteça, fazem um estardalhaço enorme. Caem no cão, correm levadas pelo vento, enfiam-se pelas frestas, entopem buracos, até se aquietarem em algum lugar. Cheguei a esta conclusão depois de verificar um acontecimento interessante, durante certo tempo, todos os dias, na calçada da rua que passa bem à frente do lugar onde trabalho.
Pois durante uma semana, tive o privilégio de observar uma balzaquiana, corpo bem cuidado, loura bronzeada, pernas roliças, grandes e atraentes; shorts bem curtinho, passar ali na minha calçada. Certos dias a temperatura caía, mas ela continuava nos mesmos trajes, indiferente às mudanças climáticas.
Deduzi que ela se parecia com as folhas que estavam caindo das árvores. Precisava fazer a confusão que elas fazem quando sabem que estão indo. Aquele corpo bem feito e tratado, ostentando um bronze que insinuava coisas, deixava trasparecer uma despedida. Seus dias estavam contados. Teria que se recolher, esperar o inverno passar, para então mais tarde fazer novos preparativos.
Há dias que não a vejo mais. Logo virão os casacões escondendo as belezas e deixando aparecer uma pele descorada.

Comentários

Unknown disse…
Tudo é cíclico, afinal...
VilmaSouza disse…
E assim nos despedimos em cada primavera que completamos...Há o tempo de exibir-se, mostrar-se por inteira para todos e vamos completando as primaveras e entrando no outono quando precisamos nos despir, nos revelar somente a quem queira compartilhar um longo inverno. Bjs e volto pra ler os outros posts. Hora de trabalhar.

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