A VIAGEM DO ELEFANTE - final
De Valladolid o
elefante segue por estrada até o lugarejo de Rosas, na divisa entre Espanha e França (700 quilômetros). Ali é
posto numa embarcação com destino a Gênova, na Itália. Chegam depois de três dias, enfrentado as
dificuldades de um mar constantemente agitado e uma chuva que não parou.
Logo após o
embarque, o elefante provoca um mal estar profundo no Arquiduque e na Duquesa
porque faz uma prolongada defecagem acompanhada de volumosa urina, que se esparrama pela
parte superior da embarcação formando uma enorme massa pastosa. Fritz realiza,
com a ajuda de alguns marinheiros, um trabalho de limpeza rápido para
justificar seus serviços.
Em Gênova a
caravana do Arquiduque é aguardada por uma enorme estrutura: carregadores
braçais, carruagens e carroças atreladas à mulas, carros de bois, enfim, todos
os recursos existentes à época, para viabilizar o transporte da mudança real e o
elefante também. Todos os integrantes da comitiva estão fisicamente abatidos
pelas dificuldades enfrentadas com a viagem.
A família real
austríaca fica enciumada porque a cidade toda está postada no cais esperando
para ver o elefante, indiferente com os monarcas.
De Gênova segue a
comitiva atravessando a Itália, não sem antes o Arquiduque ter determinado a
compra de roupas de inverno para os integrantes da comitiva. Chovia e fazia muito frio. O cornaca recebeu um
grosso capote que lhe ajudaria na travessia dos Alpes gelados.
No caminho pela
Itália passam por Piacensa, Mântua, Verona, Pádua, Trento. Em Trento a caravana
é surpreendida com a estátua de um elefante, o que apavora Maximiliano II que
associa a imagem ao milagre ocorrido em Pádua. Ordena que o coordenador da
comitiva vá buscar explicações. Este
quando volta traz a informação de que não havia relação com o milagre de Pádua.
A imagem de Solimão fora feita e colocada ali para festejar a passagem do
Arquiduque pela cidade e serviria também para lançamento de fogos.
Agora precisam
atravessar os Alpes. Eles estão cobertos de neve e o frio é intenso. Até o
elefante já está com uma fina camada de gelo a cobrir-lhe a parte traseira. O
coche que transporta o casal real quebra o eixo e a intensidade do frio cria
problemas respiratórios que dificultam a caminhada de Solimão. A quebra do
carro real foi providencial, pois facilitou reunir a caravana que estava
dispersa pelos morros.
Quando chegaram a Bolzano era noite fechada. Na manhã
seguinte, já adiantado da hora, partiram para Bressanone. Teriam pela frente
caminhos perigosos como as passagens de Isarco e Brenner, desfiladeiros famosos
responsáveis por constantes desmoronamentos de pedras e gelo com consequentes
mortes.
Apesar das
dificuldades, os Alpes são deixados para trás e a primeira cidade austríaca,
Innsbruck, é atingida no dia 06 de janeiro de 1552, onde a comitiva é recebida
com festas.
A caravana segue
de balsas pelo rio Inn e depois pelo Danúbio até a cidade de Lins. Se quisesse,
poderia ter utilizado esse transporte cômodo até Viena. Seria muito mais rápido
e menos cansativo. Mas o Arquiduque determinou que a partir de Lins o trajeto
até Viena fosse feito por terra. Seria mais popular e empolgante o contato com
a população que aguardaria a caravana passar ao longo do trajeto. É constituída uma
delegação que sai às pressas para Viena organizar a sua chegada. Maxilimiliano
II entendia que precisava colher os melhores proveitos políticos da situação.
Um acontecimento
marcará a entrada da caravana em Viena. Está a percorrer a rua principal da
cidade, apinhada de gente pelas calçadas, quando uma criança de cinco anos foge
do controle dos pais e corre em direção ao elefante. Seria sem dúvida esmagada
pelas quatro toneladas do Salomão, não fosse a atitude rápida de Fritz e a
obediência do elefante que a enlaçou com a tromba entregando-a sã e salva nas
mãos de seus pais.
O Arquiduque
desceu do seu coche e veio pessoalmente agradecer o trabalho decisivo do
cornaca. A morte da criança seria uma catástrofe política. As pazes foram feitas entre eles.
Conta que o
elefante morreu dois anos depois da chegada. Suas patas dianteiras foram
retiradas, trabalhadas e colocadas à entrada do palácio aonde serviram para
depósito de bengalas, bastões e guarda-chuvas.
Fritz recebeu todos os seus
salários atrasados acrescidos de um agrado generoso. Comprou uma mula para
montar e um burro para carregar seus pertences e decidiu retornar a Lisboa. Ninguém
tem registro de sua chegada, ninguém nunca ouviu mais falar dele. Uma carta
comunicou Dom João III o falecimento do elefante e a Rainha chorou o dia
inteiro quando soube da notícia.
AMANHÃ, comentários sobre a obra.
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