A VIAGEM DO ELEFANTE
A Viagem do Elefante - livro que assegurou o Nobel de
Literatura a José Saramago, tornando o escritor português conhecido e famoso -
é um livro excitante, criativo e extremamente crítico.
Conta a viagem (transporte) que um elefante fará de Lisboa até Viena,
passando por Portugal, Espanha e Itália.
É um tema histórico. Ela tem início em
1551 (Lisboa) terminando em 1552 (Viena). A maneira como Saramago vai
descrevendo os caminhos percorridos é cativante, muito mais fruto de sua
imaginação, que fatos reais.
Esse elefante foi trazido de Goa (India) e vivia num
cercado à Beira do rio Tejo (chamava-se Salomão), cuidado por um cornaca
(cuidador de elefantes) de nome Subhro, já há dois anos.
Quando da sua chegada
a Lisboa foi um alvoroço entre a população, mas a curiosidade acabou se
dissipando com o tempo e o animal estava praticamente abandonado, sujo e
malcheiroso, como sujo e malcheiroso também se encontrava seu cuidador.
Além disso, o animal dava uma despesa que vinha
preocupando a família real, pois necessitava de uma quantidade enorme de feno
diário, além de água e dos préstimos permanentes do indiano, somente a quem o
animal obedecia.
Foi nessas condições que o Rei Dom João III e sua esposa
Catarina d’Austria decidem oferecê-lo como presente de casamento ao Arquiduque
Maximiliano II, da Áustria, que acabara de contrair núpcias com a filha do
imperador espanhol Carlos V.
Após essa decisão começam os procedimentos legais para
viabilizar a entrega do paquiderme. Primeiro o Rei determina seja encaminhada uma
carta oficial ao Arquiduque consultando-o se aceita receber o elefante como
presente de casamento. Entre as justificativas para a doação de um presente tão
estranho, estava “que em todo o reino não havia nada mais valioso que o
elefante”.
É nomeado um mensageiro para levar a correspondência
real com a recomendação de que seja feita em regime de urgência. Após vários
dias o encarregado retorna a Lisboa com a resposta, escrita em latim. Nela o Arquiduque
diz aceitar o presente. Há um contentamento geral no Reino Português, por dois
motivos: fica resolvido o problema do presente e se livrarão dos enormes gastos
que o elefante vinha proporcionando (estava a proporcionar, na escrita de
Saramago).
Para fiscalizar os preparativos, o Rei resolve fazer
uma visita ao elefante (fazia um ano que não o via). Acompanha-o uma comitiva. Encontra
o elefante e o seu cuidador em estados lamentáveis. Mantém uma conversa com o
indiano e determina que lave Salomão. Pelo estado que se encontra o indiano,
Dom João III autoriza que lhe sejam compradas duas peças de roupa, uma para a
viagem e outra para a solenidade de entrega do animal. Também fica sabendo do seu
nome: Suhbro (Branco) e não gosta. Comenta que esse nome deveria ter sido
trocado para Joaquim assim que chegou a Lisboa.
Começam os preparativos para a viagem. O Rei determina
sejam tomados cuidados especiais. Será uma viagem até Valladolid, na Espanha (a
parte da viagem sob a responsabilidade portuguesa), cidade onde se encontra o
Arquiduque e sua esposa, preparando-se para retornarem a Viena. Dali para
frente o transporte do elefante será responsabilidade de Maximiliano II.
A caravana sai de Lisboa composta por aproximadamente
50 pessoas. São trinta policiais coordenados por um comandante que responderão
pela segurança; o cornaca segue acavalado no pescoço de Salomão e tem duas
pessoas como auxiliares; os restantes cuidarão do abastecimento, do carro de
bois, dos fardos de capim e da água.
Acontece um pequeno desentendimento entre o comandante
e o indiano logo na partida. Ele é gerado quando se decide como será composta a
comitiva. O comandante não concorda seguir atrás do elefante porque, no seu
entendimento, terá que enfrentar todo o pó e os maus cheiros provocados pelas
fezes e urinas do animal.
A população à beira das estradas e das aldeias por
onde passa a comitiva se espanta, pois nunca haviam visto um elefante. As
dificuldades enfrentadas são enormes, porém o séquito prossegue andando cerca
de dez léguas por dia, até chegarem a Figueira de Castelo Rodrigo, que fica na
divisa entre Portugal e Espanha. Ali, uma comitiva do Arquiduque viria se
encontrar com os portugueses para receberem o elefante. A dúvida estava em
saber se seriam espanhóis ou austríacos.
Um intendente de uma aldeia próxima resolve a situação encaminhando um
pombo- correio que retorna com a notícia de que a comitiva já está a caminho e é
formada por austríacos.
Os portugueses apressam-se para chegarem primeiro. O
comandante tem ordens expressas do secretário real Pêro de Alcáçova Carneiro
para levarem o elefante até Valladolid e não devem entregá-lo à comitiva
austríaca em Castelo Rodrigo. Mesmo se necessário for a força para garantir.
Por causa disso, há um ligeiro desentendimento entre os dois chefes assim que
os austríacos chegam, mas rapidamente controlado e resolvido pelo bom senso do
capitão austríaco.
Na chegada da caravana de Maximiliano II torna-se
evidente a superioridade da delegação do Arquiduque pela maneira como estão
vestidos os soldados, os armamentos que dispõem e a organização da escolta. Os
soldados portugueses não passam de maltrapilhos fedorentos e desorganizados,
ostentando um armamento velho e superado.
Ambas as caravanas seguem até Valladolid sob a coordenação do comandante
português. Dessa cidade a comitiva portuguesa retorna a Lisboa e os
participantes (os carregadores) estão ansiosos para apressar o retorno, pois
precisam chegar à capital portuguesa para receberem o pagamento do seu
trabalho. Há muitas dúvidas e questionamentos sobre se receberão, pois todos
sabem e comentam que Portugal encontra-se em lastimável situação financeira.
A cidade de Valladolid acolhe o elefante e sua comitiva
em polvorosa expectativa. O arquiduque Maximiliano vem
pessoalmente receber a caravana. Do séquito
português apenas o indiano seguirá agora com os austríacos, encavalado no
pescoço do paquiderme. O elefante passa por uma nova lavagem e recebe uma enorme
gualdrapa (espécie de guarnição que o cobre), especialmente fabricada para o
evento, na qual aparecem vistosos bordados onde estão encravadas pedras
preciosas. Essa atitude vai provocar comentários do arcebispo, presente à
recepção, pois achou que aquele enorme tapete ficaria melhor na catedral da
cidade. Mais tarde, por sugestão da duquesa, esta gualdrapa é encaminhada ao
arcebispo.
O mesmo incidente ocorrido no início da
viagem portuguesa ocorre agora: o elefante vai à frente do carro que transporta
a realeza, mas a certa altura da viagem é colocado atrás do coche que leva os
príncipes, o que deixa profundamente revoltado o indiano.
Numa conversa inicial entre Maximiliano e Suhbro,
por achar o nome do condutor muito difícil, o arquiduque muda-o para Fritz.
Também renomeia o elefante. De Salomão passa a ser chamado Solimão. Em razão
dessa mudança há um ligeiro desentendimento entre o arquiduque e o cornaca,
que, inicialmente, não aceita ser chamado de Fritz. Somente concordará mais
tarde quando percebe que é impossível e inútil lutar contra a força.
Também com esta mudança Fritz sente um drama
muito bem explorado por Saramago: a manutenção do emprego. O indiano questiona
seu patrão, mas tem medo de perdê-lo, embora seja o único ser ali e
provavelmente em toda a Europa, capaz de conduzir um elefante.
OBSERVAÇÃO: Continua amanhã.
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