A PROCURA DOS ANCESTRAIS

Conheci meu avô , mas tenho dele vagas recordações. Era um italiano, vindo de uma região que até hoje ninguém conseguiu descobrir. Chamava-se José. Magro e alto, a lembrança que tenho da sua fisionomia. Memória de um menino de cinco anos.
Trabalhou até seu fim na profissão de celeiro. Tinha paixão por gemada, feita com ovo, muito açúcar e vinho, que sempre quando eu estava por perto obrigava-me a provar. Eu não gostava, mas todos, naquela época, consideravam aquilo uma vitamina que ajudava no crescimento. Era inútil dizer não.

A religiosidade na família era tão grande que, todas as noites, após a janta e antes de dormir, era rezado o terço. Todos ajoelhados num compartimento da casa localizado entre a cozinha e a copa que ficavam de um lado e os quartos do outro. Utilizavam o latim como língua para rezar o pai nosso, o credo,  as ave Marias, os glórias e a salve rainha. Eu gostava dos Mistérios Gloriosos.  Seguia a ladainha, que não terminava nunca.

Um dia, pela manhã, meu pai chegou em nossa casa dizendo que o nono José estava muito mal. Morreu naquele mesmo dia. Nunca fiquei sabendo de que. Muitos anos mais tarde, quando consegui localizar sua certidão de óbito, constatei que não havia nela a “causa mortis” e nem o local do seu nascimento. Simplesmente dizia "italiano".

Lembro-me que a casa ficou cheia de pessoas conhecidas. Puseram meu avô sobre a mesa da copa - um salão grande de uns seis por sete metros. Ali ele foi velado. Nas paredes daquela sala havia dois quadros que eu sempre evitava observar. Um deles mostrava a morte de uma pessoa má sendo carregada pelos demônios para o inferno. O outro apresentava uma pessoa boa que ao morrer estava sendo conduzida pelos anjos para o céu. Os quadros eram velhos e feios, já desgastados pelo tempo, com seus desenhos bastante apagados. Contavam histórias deles dizendo que vieram da Itália, trazidos por nono José.

Naquela época eu tinha medo de morto e não consegui ver meu avô posto sobre aquela mesa. A mesma mesa que no outro dia sentavam-se todos os da família para as refeições. Da porta consegui visualizar ainda os dois quadros e fiquei pensando quem estaria carregando o nono José. Seriam os anjos, ou seriam os demônios?

A uns oitocentos metros, ladeira abaixo à beira de um riacho, morava um tio meu, filho do morto, que era o mais velho dos irmãos. Tinha por profissão fazer carroças, barris para armazenar vinho e também sabia ser carpinteiro. Pois na oficina desse tio foi que meu pai, o tio marceneiro e outro filho do defunto construíram o caixão feito com madeira bruta de pinheiro. Revestiram-no com um pano preto e na tampa desenharam uma cruz de alto a baixo.

Quando nono José foi colocado naquela caixa horrível e mal feita, percebi que ele já havia enrijecido. Estava descorado de tal forma que me causou espanto. Passei muitas e muitas noites sem conseguir dormir. A solução vinha quando minha mãe, conhecedora do meu medo, levava-me para o quarto dela e num colchão ao lado me acomodava entendendo meu pavor. Ali a imagem do meu avô ia desaparecendo e o sono não demorava a tomar conta de mim.
                                              
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Mas o que até hoje me inquieta é não ter conseguido descobrir a origem do meu nono José, na Itália. Já procurei Consulado Italiano, consultei internet, já estive naquele País e em todos os lugares pelos quais passei procurei saber se alguém conhecia alguma pessoa com o sobrenome "Amadigi". Ninguém conseguiu elucidar minha dúvida.

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Observando diariamente os acessos do meu "blog", vejo que tenho leitores em muitos países, dentre os quais inclui-se a Itália.

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O que eu quero é descobrir o lugar de onde viveram os meus ancestrais. O meu nono José quase não sabia falar português, expressava-se sempre no idioma italiano, mas nunca soube, ou não quis precisar o local de onde veio.

Será que alguém seria capaz de me indicar um caminho?

Comentários

Anônimo disse…
Bonita história, gostei. Sabe que outro dia falei com um italiano de Roma. Ele entrou num site italiano e descobriu vários 'amadigi' no norte da Itália. Vou ver se escrevo para ele e consigo esse site. Abraço Fausto

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