A CERIMÔNIA DO LAVA-PÉS


Na quinta-feira santa acontecia a solenidade do lava-pés. Per-corríamos os três quilômetros que separavam o seminário da ca-tedral sempre com o mesmo espírito alegre que a idade facilitava. Fazíamos parte essencial das cerimônias.

Como anualmente acontecia nessa época, a igreja sempre estava tomada de fiéis. Ocupávamos nossos lugares junto do harmônio e os cantos gregorianos interpretados em latim, tomavam conta do ambiente todo.

Dom Carlos - o velho bispo diocesano - comandava as atividades litúrgicas, ricamente paramentado.
Todos os anos eram escolhidas pessoas da comunidade, doze, para representarem os apóstolos. Sempre homens já com certa idade e reconhecidamente católicos praticantes. Ficavam sentados, seis de um lado e seis do outro. Dom Carlos ficava no corredor formado ao meio. Um ajudante conduzia a bacia com água e o bispo ia lavando os pés de cada um, enxugando-os e beijando-os depois, enquanto recitava orações alusivas à solenidade.

Eu observava aquela cerimônia e me mantinha perplexo. Aquele bispo, aparentemente tão orgulhoso e hierarquicamente superior, submetia-se ao rito humilhante de lavar, enxugar e beijar os pés de pessoas que nem conhecia.
Imitava Cristo procurando imortalizar o que havia sido feito há dois mil anos atrás em preparação da Santa Ceia.
(do livro em prelo: Meninos Aspirantes)






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