CRÔNICA PARA UM FERIADÃO

Pois a semana toda passei por um dilema: viajo ou fico em Curitiba. Antigamente, nem pensava, decidia logo e partia. Hoje não. São tantos os problemas, que precisamos analisar!

As rodovias estão um inferno. Tomadas de carros, cheias de motoristas irresponsáveis e nas “despedagiadas”, só buracos. Você corre um risco enorme de nem chegar ao destino.
Para voltar, então, é um Deus nos acuda. Congestionamentos e mais congestionamentos criam filas quilométicas e todos, ansiosos pelo retorno à casa, cometem barbaridades.

Milhares de carros foram despejados nas cidades e nas estradas e elas não sofreram nenhuma ou mínimas modificações. Não sou contra a conquista que o povo teve de possuir seu carro, falo da ineficácia dos administradores que estão perplexos, mas não fazem nada para solucionar ou amenizar o problema.

Pois bem, vamos analisar uma saída num feriadão aqui de Curitiba.
Você tem algumas opções: ou se vai para o litoral, ou se vai para o interior. Raros escolhem a Régis Bitencourt, na direção de São Paulo.


Para o norte - sentido Ponta Grossa - o congestionamento já começa no Parque Barigui.
Descendo para o litoral as duas rodovias ficam entupidas. A BR 277, que leva às praias do Paraná, parece ser a que mais flui; mas, se você escolher a 376, que segue para Santa Catarina, o congestionamento já começa na saída de São José dos Pinhais, prolongando-se até o primeiro pedágio, distante uns trinta quilômetros. Por ser uma rodovia mais moderna, até que vai. Todos sabem e torcem, porém, para que não aconteça um acidente na descida da serra. A curva da Santa é o matadouro natural, o local onde entope tudo. Chega a vinte quilômetros de fila.

Se você escolher o interior de Santa Catarina utilizando-se da BR 116, de Curitiba até Fazenda Rio Grande é uma fila só. Uns vinte quilômetros. O trânsito não anda.
Há anos planejam essa duplicação, mas ela nunca acontece. Milhares de pessoas já morreram nesse trajeto, estrangulado pela superada ponte do rio Iguaçu e um asfalto tão antigo que já deu o que tinha para dar. 

Se a escolha for a rodovia que passa pela Lapa, São Mateus do Sul, União da Vitória indo para o sudoeste do Paraná ou escolhendo Santa Cantarina e Rio Grande do Sul, vai se deparar com um infindável número de caminhões, todos super carregados, que dificilmente permitem a ultrapassagem. Caminhoneiros catarinenses e gaúchos - conhecidos pelas suas intransigências e azedumes - acham-se os donos da estrada e não estão nem aí com o que acontece ao redor.

Mas apesar de tantos percalços, supunhamos que você chegou aos destino. Feliz da vida! Teve sorte! Reviu os amigos, abraçou os parentes, colocou as conversas em ordem.
Você tem o sábado e o domingo até pouco depois do meio dia, para os encontros, abraços e festas. A segunda-feira o espera braba e não há como fugir dela.


Se o destino foi o litoral você salgou-se, comeu uns camarões, tomou cerveja e praticamente não dormiu. Com os do interior não é muito diferente. Ressaca para todos. Carro lotado: mulher, filhos, malas. Recomendações para andar de vagar.

Tem que iniciar o retorno lá pelas 14 horas do domingo. Calor, sol forte, sono acumulado a exigir seu tempo, estômago cheio de carne e cabeça rodando de álcool.
Se tem ar condicionado ainda vai! Nesse intervalo passa-lhe pela cabeça como são bons os momentos que antecedem à ida; quão tristes, os posteriores às festas!

Para os do interior, a fila começa logo depois do pedágio de São Luiz do Purunã, na BR 277. Mais de trinta quilômetros, passando por Campo Largo, cheia de quebra molas e sinaleiros. Uma fila sem fim que só termina no portão da casa.
Os socorristas do pedágio não conseguem atender todos os pedidos de socorro. São carros encostados à beira dos asfaltos. Outros parados na pista, soltando fumaça pelo motor que ferveu.
É criança chorando que pede água, outra quer fazer xixi. Faz aí mesmo diz a mãe apavorada.
Demora muito para chegar, mãe?, pede outra.
Estamos chegando - responde o pai descontrolado.

Ia esquecendo de mencionar a fila que se forma nos pedágios da BR 376 que sobem a serra. Quilométricas e lerdas. Quem possui o “via fácil”, ainda passa mais rápido; quem se submete às cabines, ficam um pouco aliviados quando uma moça bonita pega o dinheiro, devolve o troco e o “ticket” desejando boa viagem.

Tem os caminhoneiros que sobem a serra. Não poderia esquecer deles. Todos sabem que as pistas são duplas, até tríplas em alguns lugares mais críticos; mas aí entram em funcionamento as "sandices" desses profissionais do volante. Você sabe que a maior parte dos caminhões estão equipados com rádios amadores e para driblar o sono que os rebites não conseguem mais, passam o tempo conversando entre si. Ao chegar nos pontos da serra mais críticos e vendo a fila incontável de carros retornando das praias, combinam um passa tempo: enfileram seus caminhões ocupando todas as pistas e vão subindo em marcha lenta.
A fila que se forma fica para a sua imaginação. Os xingamentos e os buzinaços nem se fala. E eles vão seguindo tranquilamente, conversando nos seus rádios e soltando gargalhadas.
Polícia rodoviária? Não aparece nenhuma. Insinuam que não sabem nada.

Em casa, tranquilo na minha rede, ouço e assisto as reportagens pela televisão. Informam que o retorno da praia demorou quase cinco horas. Passar por Campo Largo custou três horas e meia.

Diversos acidentes foram atendidos no trajeto entre Fazenda Rio Grande e Curitiba. Um veículo com a família toda despencou na ponte do rio Iguaçu.
À meia noite - depois que o movimento diminuiu e com os já números compilados - a Polícia Rodoviária informa que neste último feriadão o número de acidentes triplicou, com o dobro de mortes. Famílias inteiras foram dizimadas em razão das péssimas estradas, imprudência e bebida dos motoristas.


- Ficou velho, Mário!
- Não Xisele, desaprendi de gostar de sofrer - respondi.



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