QUANDO CHEGOU O OUTRO

Já no dia anterior ela havia me falado que ganhara um cãozinho. Bebê ainda - dizia ela - e nem nome tinha. Brinquei com essa minha amiga dizendo que do jeito como estava indo, ela acabaria enchendo a casa. Nunca vi uma pessoa se afinizar tanto a esses animais!

Mas por ser bebê, disse-lhe que teria trabalhos. Qualquer ser nessa fase exige cuidados. E como estava sem nome ainda, sugeri alguns: Nike... Pitter... Pachola...

Hoje, logo cedo, fiquei sabendo que não foi ao trabalho. Disse que não havia dormido à noite porque o cachorrinho tinha chorado o tempo todo. Problemas intestinais, vômitos, tremedeiras decorrentes das dificuldades de adaptação. Sentira, certamente, a ausência dos irmãozinhos. Eram cinco e até então viviam juntos - disse-me ela.

Fiquei imaginando o quão dolorido não havia sido essa separação. Ele fora retirado do carinho da mãe, do seu leite, do convívio com os irmãos e do cheiro canino, tão necessário a eles! Com a saúde desse jeito e a parte emocional abalada, estava correndo riscos.

Mais tarde recebo notícias de que havia melhorado. Os cuidados afetivos que recebera e uma alimentação especial composta de peito de frango com arroz e água-de-coco, trouxeram o cãozinho à normalidade. Fizera um longo sono durante a manhã e quando acordou já caminhava pelos cômodos da casa balançando o rabinho e esfregando o focinho nas pernas da nova dona. Parecia já esquecido dos irmãozinhos e da mãe. Dava sinais de adaptabilidade.

Minha amiga teria agora um novo trabalho: educá-lo para fazer as necessidades em lugares próprios e facilitar o relacionamento com o outro habitante do local. Não seria tarefa muito fácil, pois o primeiro morador sentiria a divisão daquilo que fora antes só seu. Agora os cuidados teriam que ser duplicados.

Zeus, o primeiro cão, retraído num canto, não parecia entender o que acontecia e estava com cara de poucos amigos.

Decidiu que nessa primeira fase, os cuidados seriam dirigidos ao novato. O outro já habitava aqueles cômodos há muito tempo e conhecia todos os costumes da sua dona. Sabia, contudo ela, que jamais poderia menosprezá-lo.

Fiquei a imaginar o que pensa um cão quando se encontra numa situação dessas... O primeiro deve ter reclamado e percebido a invasão de um cheiro estranho vindo de cão intruso; o segundo, tão pequeno era que devia estar apenas sentindo a falta da mãe.

Coloquei-me a pensar nos procedimentos que minha amiga adotaria. Não deixava de ser certa violência para com o primeiro, mas também poderia ser analisado como uma tentativa de dar-lhe uma compa-nhia. Passava a maior parte do tempo sozinho e a chegada do outro, poderia acabar com a sua solidão. Justificativa até aceita.

Resta-me acompanhar o desenrolar dos fatos. De que forma se dará o período seguinte. Por certo muitas outras noites ainda virão de vigília. O tempo, só o tempo, será capaz de fazer com que o recém-chegado esqueça as afetividades antigas e o primeiro se adapte a um novo mundo que lhe era inteiro, mas que será dividido.

Vamos permanecer atentos. A história mal começou.

Comentários

Tadinhos dos dois, o SLyn, ficou estressado com a Rayssa, minha gata siamesa q roubaram,ela era de rua e Slyn nao gostou de ter uma intrusa em casa, ea foi roubada numa quinta e no sábado Slyn morreu, ele q ja estava adoentado, ficou alterado emocionalmente e morreu...Sergio está arrasado....

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