ELES NÃO PERCEBEM NADA


Sou um freqüentador assíduo dos supermercados. Há já bastante tempo, incumbi-me das compras da casa. Como ando fazendo as contas para a aposentadoria -, mas não querendo parar -, dia desses, caminhando por entre as gôndolas de um desses estabelecimentos, veio-me a idéia de mandar um currículo para trabalhar ali depois que deixar minha profissão.

Na hora da entrevista faria questão de dizer ao meu entrevistador que tinha preferência por um serviço. Certamente ele iria me perguntar, meio espantado,  que serviço era esse. E eu lhe diria, sem nenhuma intenção de agradar, nem querer garantir emprego.

- Eu queria desenvolver o trabalho de educador.

- De educador? – certamente me perguntaria espantado ele - sem entender nada.

- Sim, de educador, pois aqui não existe nenhuma educação no trato dos clientes e do estabelecimento.

- Interessante..., meio estupefato falaria ele, – poderia explicar-me?

- Explico, sim, mas primeiro pergunto: quem é o elemento mais importante dentro de um estabelecimento como este?

- O gerente -, me responderia ele -,  querendo valorizar o chefe.

- Não, não concordo, o elemento mais importante é o cliente - diria eu.

- É..., diria ele, - não deixa de ter razão, uma visão nova dita por uma pessoa antiga!

- E porque tratam tão mal aquele que é o mais importante? Aquele sem o qual este supermercado  não existiria?

 
Veja:

a) Os repositores das gôndolas quando chegam com aqueles carrinhos abarrotados de mercadorias vêm gritando, pedindo que as pessoas se afastem, que os deixem passar. Se não fugir o cliente é atropelado. A solução é encostar-se a um canto para que o funcionário passe.

b) Outros posicionam seus carregamentos bem no meio do corredor, impedindo qualquer passagem, jogando caixas vazias por todos os lados.

c) Caso tiver dificuldades de encontrar um produto e se atrever a pedir informações a um daqueles funcionários que ficam andando a esmo, não terá qualquer orientação. Muitos até dirão que o produto não existe, pois não querem ter qualquer encomodo.

d) Tem umas mocinhas, todas empetecadas e sorridentes, com um crachá “posso ajudar?”, mas que não ajudam nada. São inúteis. Preferem os cantos mais afastados onde encontram mais privacidade para falar ao celular, ou bater um papo com um cliente conhecido.

e) Às vezes o funcionário é questionado, pois a etiqueta que colou no produto no momento da pesagem está com preço diferente do anunciado na divulgação. Sabe qual é a saída ao ser ques-tionado?
– Peça desconto no caixa – fala indiferente. Morre de preguiça.

f) O desconto no caixa vai ocasionar uma série de complicações. A operadora terá que acender aquela luz para chamar um fiscal, que, por sua vez, não acreditando no que o cliente diz, sai deslizando naqueles patinetes a procura do preço. Demora que só para voltar! A fila enorme para, o burburinho aparece.

g) Chega um velhinho empurrando seu carro cheio de compras. Os caixas preferenciais estão atendendo pessoas jovens.

h) Já observou quantos produtos perecíveis encontram-se abandonados pelas prateleiras? Passam dias ali e ao serem descobertos simplesmente são recolocados em seus lugares, sem qualquer cuidado nem análise de possíveis conseqüências.

i) E o cheiro insuportável do açougue e da peixaria? A água descongelada se esparramando pelo chão?


- Um momento – falará o funcionário entrevistador, o senhor já trabalhou num supermercado?

- Nunca, - responderei.

- E de onde tem essa visão organizadora?

- As organizações e as coisas corretas são características universais, não há necessidade de uma convivência específica para aplicá-las.

- Realmente, você está com toda a razão. Disposto a começar o trabalho quando?

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