O VIADUTO DO CAPANEMA
Quase
todos os dias sinto as vibrações do Viaduto do Capanema. Quem não
conhece o Viaduto do Capanema! Com certeza, um dos primeiros
projetos arquitetônicos viários arrojados da Capital. Foi passando
por ele o caminho mais curto e rápido que encontrei para chegar ao
meu trabalho.
Dificilmente
consigo me livrar desses balanços, durante uns dez minutos diários,
tempo que permaneço ali, na interminável fila raivosa que se tornou
permanente, nesta época cheia de veículos a entupirem as ruas da
cidade.
Carros de todos os tipos enfileram-se e vão parando e
andando e andando e parando. Haja embreagem,... freio e paciência...!
Logo
nos primeiros dias, percebi que o viaduto vibrava. Cheguei a me
assustar achando que meu coração pulsava diferente, sempre que
passava ali. Constatei que não era ele, ao observar um ponto fixo e
perceber as bordas daquela ponte balançando.
E
como balança esse viaduto! Aprendi também que ele precisa vibrar
para suportar todos os percalsos. É uma lei da física, disse-me um
colega professor na matéria. Se parar, cai. Jamais teria suportado
tantos anos, e olha que são anos! Uns cinquenta, calculo a balançar
dia e noite, noite e dia, ao sol e na chuva, durante os invernos
curitibanos e as canículas dos seus verões.
Com
certeza teria ele muitas histórias para contar. Lembrar da época
que o Belém passava por de baixo, limpo e cheiroso, expondo seus lambaris a nadar
fazendo graças; dos banhos nus da gurizada a se divertirem em suas
águas; dos gritos alegres ou enfurecidos da torcida do Ferroviário
– gloriosa época de títulos e jogadores bons! Com certeza,
vibrava menos, mas ouvia e presenciava coisas boas! As enchentes
furiosas, com suas águas barrentas, porém repletas de jundiás!
As
coisas mudaram rapidamente! O progresso anda, empurra, muda,
massacra, aumenta e diminui. Falta água pura, faltam lambaris, não
existem mais a piazada se banhando, não se ouvem os gritos da
torcida do Ferroviário, as vibrações aumentaram e o Viaduto do
Capanema ficou pequeno. E como ficou! Estrangulado! Velho! Superado!
Ainda teima em permitir a passagem sobre seu leito danificado.
As
vibrações o mantem vivo. Continua balançando, mas não cai.
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