O REENCONTRO

Porque a saudade bateu forte, Fermino foi procurar Ondina. Depois, aquela vida de pirangueiro sozinho não estava boa. Não devia tê-la abandonado daquele jeito. Ela insistira tanto para ficar junto! Ele não quis arriscar, não conhecia nada dela.
Os momentos que passaram juntos, não foram suficientes para serem ocupados com frivolidades, nem busca de informações.

Observava Trovão que parecia calado além do normal. Vinha lhe fazer carinhos esfregando-se em suas pernas. Com uma das patas traseiras espantava pulgas, soltando uivos insatisfeitos, balouçando a cauda. Também ele recebera cuidados e carinhos de Ondina. Dera-lhe banhos, curara-lhe feridas, conversara muito com ele. Com certeza, ele tinha saudade dela. Animal sente e não fala!

Mas o que Fermino sentia não era isso... Não era saudade...

Alguma coisa diferente, que nunca tivera, nem experimentara com Mariquinha, sufocava-lhe o peito, tirava-lhe o ar. Mariquinha se fora e ele nunca se lembrou nem pensou procurá-la. Lembrava-se muito da filha, consideração que devia.


O que Ondina lhe proporcionava era um sentimento indescritível. Se ela estivesse ali, não precisaria de mais nada. Pensou contar seu sentimento, mas de companhia só tinha Trovão.


Onde estaria Ondina? O acampamento de lona onde se conheceram, nas margens do rio, já havia sido desfeito. A cheia do Paranazão fazia tempo que se fora. Ficara sabendo que muitos, como fizera ele, voltaram para suas ilhas, outros rumaram para a cidade.


Perguntando por Ondina, ninguém soube dizer para onde tinha ido. O dono do boteco do Porto 18 lhe assegurou que ela não tinha voltado para a ilha. Vira-a na carroceria de um caminhão da prefeitura que transportava para a cidade os ilhéus decididos a sair daquela vida.


Voltou ao barraco e acabou concluindo que aquilo não era vida. O rio passava sereno a sua frente. Não lembrava nada da fúria dos dias passados. Nem os companheiros da cidade apareciam mais! Trovão gastava o tempo a lamuriar pelos cantos do barraco ou divagando sozinho pelo terreiro. Tinha até ficado com o pelo ruim, emagrecera e seus olhos, fixos no patrão, suplicavam alguma atitude, quase fechados pela remela.


Iria para a cidade, decidiu. Deixou recado no Porto, que estava vendendo a ilha. Pedia o olho da cara, achou. Não demorou, estava sem a posse.

Precisava encontrar Ondina! A cidade lhe era estranha. Encontrá-la como? E foi andando de casa em casa. E foi pedindo. Pôs anúncio até na rádio. Deu endereço da praça da cidade. Homem sem morada, o endereço tinha que ser ali.


Ela acabou aparecendo. Trovão festejou quando a reconheceu. Fermino olhou-a demoradamente. Aquela mulher tinha alguma coisa de diferente. Não era bonita, nem vestia vestido bom. Estava até mais judiada de quando a conhecera. A tristeza de seus olhos perdidos nele, parecia dizer alguma coisa.
Abraçaram-se ali mesmo. Não se beijaram porque o local era público. Trovão, ao lado, com os olhos fixos nos dois, balouçava o rabinho, soltando grunhidos.
- Fermino!
- Ondina!
- Não esperava mais.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

OS DECRETOS DO PESSUTI

ESTRANHO

CONTRASTES