INÍCIO DA PESCA
Hoje a praia do Campeche amanheceu agitada. Bem diferente
dos dias anteriores que pela manhã estava sempre deserta. Só alguns caminhantes
adoidados como eu e os permanentes surfistas, nada mais.
Espantei-me com o movimento. E só fui saber do que se tratava
quando vi uma multidão de pescadores agarrados a uma rede enorme, que do mar era
puxada para a praia.
Era o início da temporada da pesca da Tainha.
O mar, à frente, estava tomado por barcos de pescadores que
andavam ao longo da costa.
Eu nunca havia presenciado a pesca da tainha, mas concluí
não é muito diferente da de arrastão que praticávamos nas praias do rio Paraná.
A diferença está que aqui tudo é maior. A rede é maior. O
número de puxadores é desproporcional. A quantia de peixes é maior.
Os gritos e os comandos parecem desesperados quando o
círculo vai se fechando e o espaço diminuindo. Alguns peixes ainda conseguem
pular por cima, mas a maioria vai se amontoando formando um saco enorme onde centenas e centenas de amostras, já chegam agonizando.
À tarde retornei à praia do Campeche de bicicleta.
Continuava tomada de pescadores. Caminhavam lentamente ou em grupos jogavam conversas
fora. Não tiravam um minuto o olho do
mar.
Perguntei a um pescador o que estava acontecendo. Explicou-me
que observavam se havia movimento de tainhas se aproximando da costa. Pensei: pobres bichos, sem querer anunciam a sua
chegada para a morte!
Os pescadores conhecem a aproximação dos cardumes pelo
comportamento do mar e quando ela acontece uma movimentação automática toma
conta de todos.
Pessoas calejadas no trato do mar não conseguem dominar o
sentimento de alegria pela certeza de que tainha próxima é sustento da família
garantido.
Lei imutável da natureza: uns precisam morrer para que outros
vivam.
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