NOVOS RUMOS
O marido deixou-a quando fazia quarenta anos. 
Além da idade, restaram-lhe também três filhos. 
Ela decidiu dobrar o trabalho e estudar as crianças. 
Logo tinha um engenheiro e um advogado, enquanto o último prestava vestibular para medicina. 
Ele nunca mais apareceu, nem contou onde estava. 
Ela, de professora celecista, concursou-se, fez mestrado, virou doutora. 
Pegou fama.
As escolas particulares disputavam seus serviços. 
Tornou-se professora de faculdade. 
Muitos alunos se apaixonaram. 
Ela chegou a alimentar as esperanças de alguns. 
Não parecia ter a idade que tinha. 
Sua vida tomou novo rumo quando se convenceu que poderia reiniciar novos amores. 
Os assédios eram grandes. 
Decidiu investir-se. 
Passou a usar roupas de marca. 
Cuidou-se na alimentação. 
Melhorou seu corpo e a sala de aula suspirava a cada chegada sua. 
Porque tinha uma arcada dentária um pouco saltada, consultou um dentista que lhe propôs uma cirurgia corretiva. 
Um ano de sofrimento e recuperação. 
Aparelho ortodôntico nos dentes tornou-a mais jovem. 
Ela melhorava na aparência. 
Os filhos, já criados, acompanhavam a transformação da mãe sem falar nada. 
Foi quando decidiu melhorar a estética dos seios. 
Estavam flácidos em decorrência da idade e das mamadas.
Convenceu o médico a diagnosticar uma doença que lhe desse justificativa para uma licença nos empregos e marcou a correção. 
Queria uns seios não muito grandes, mas bem durinhos. 
Em quinze dias estava recuperada. 
Depois, fez correções sucessivas: 
Ajeitou as nádegas. 
Tirou os pneuzinhos que comprometiam seu desejo de perfeição. 
Aspirou as gorduras da barriga. 
Malhou por meses seguidos.
Corrigiu o olhar cansado. 
Eliminou os pés de galinha que tomavam conta da face. 
Tirou as varizes. 
Fez períneo. 
Os filhos acompanhavam a evolução da mãe. 
O mais velho entendeu que ela estava amando. 
O do meio achou que a mãe passara a se gostar. 
Mas o caçula - preocupado com os cursinhos e a cabeça cheia de vestibulares - nem percebeu as transformações da mãe. 
Ela já era outra quando aceitou convite para um jantar vindo de um aluno concluínte do último ano.
Tinha vinte anos a menos. 
Devia beirar a idade do filho vestibulando. 
Aquele primeiro encontro rendeu outros e outros. 
Não fosse a interferência dela, ele teria reprovado no conselho de classe. 
Evoluíam no amor. 
Ela passou a faltar no trabalho. 
Aos filhos explicou que estava sobrecarregada. 
Um dia, o antigo marido avisou que estava vivo. 
Os filhos quiseram vê-lo. 
A esposa não. 
Após muita insistência e desespero da família, o pai comprou um apartamento mobiliado, no centro da capital. 
Doou-o ao aluno apaixonado. 
Ela acertou com os filhos que a casa onde moravam seria deles, mas não aceitaria o retorno do antigo esposo.
Reuniu os seus pertences e fixou residência naquele novo lar. 
Optara pelo novo!
(Extraído do livro Coisas Soltas - Mario José Amadigi) 
Comentários
Essa sua crônica retrata bem os tempos modernos. A busca pela renovação é constante e as mulheres aprenderam a se descobrir e amar melhor. O texto é uma síntese do que geralmente acontece com as famílias modernas.
Beijo.