NOSSOS AMIGOS CÃES
A minha amiga Íria
é uma pessoa aficionada a cachorros. Mantém um “blog” de resgate canino e
também tem suas preocupações com os gatos. Impressionam-me os cuidados que
nutre para com esses animais, principalmente aos primeiros.
Mas o que mais me
chamou a atenção - visitando a sua página - foi a descoberta que fiz ao
conhecer o lado de extrema carência que muitos animais vivem. Abandonados pelas
ruas, eles perdem praticamente toda a sua capacidade de sobrevivência. São
maltratados, espancados, passam frio e fome, morrem à míngua pelas esquinas na
busca de proteção e afetividade. Muitos - atropelados pelo trânsito louco -
agonizam pelas calçadas; outros, sem qualquer possibilidade de reação, deixam-se
apanhar pelo camburão da morte.
Pois o “blog” da minha amiga Íria
faz o trabalho de recuperação desses “bichinhos” - como trato deles quando
converso com ela. Procura arranjar-lhes
uma nova casa. Encanto-me com a forma como faz as chamadas. A maneira cuidadosa
como expõe as fotos desses animais feios, magros e espancados pelos efeitos do
abandono, tornando-os até bonitos e atraentes, nas descrições que faz.
Não fazia ideia que
também para esse lado do "mundo cão" existem os adeptos e acirrados defensores.
Aqueles que visitam o sítio da minha amiga deixam comentários, ajudam na
divulgação, dão sugestões e contribuem para melhorar a situação desses pobres
animais.
Gostar de
cachorros, nunca foi o meu forte. Prefiro os passarinhos. Pois a Íria insiste e
sempre me fala que acabarei afeiçoando-me a eles. Tenho as minhas dúvidas. Acho
isso muito difícil! Adquiri certa antipatia pelos cães, porque em frente a
minha casa – utilizando um espaço da calçada - construí um jardim que trato com
o maior dos cuidados. Adubei a terra, tornei-a produtiva e as coisas que ali
plantei estão viçosas e tomadas de um verde sadio.
Aí vem o motivo de
certa raiva e preconceito que tenho pelos cachorros. Madames, jovens e senhores
já idosos, que passam a maior parte da vida sem fazer nada, passeiam com seus
cães de estimação conduzidos por gargantilhas e correias pela rua da minha
casa. Fizeram do meu jardim uma espécie
de “mijódromo” canino.
No início até
achava que a ureia, o ácido úrico e o sal pudessem ajudar no desenvolvimento de
minhas plantas, mas, com o tempo, concluí que aquilo estava ficando complicado.
Com o sol forte opera-se uma transformação e o cheiro que exala sempre me
dificulta os cuidados com as podas e amaino da terra. Com o aumento dos
frequentadores, o cheiro ficou mais forte e está chegando à frente da minha
casa, onde tenho por hábito instalar a minha rede, tornando complicada a permanência
ali.
Agora, minha cara
Íria, achas que esses motivos não são suficientes para eu manter certa
antipatia para com os “bichinhos” que você ama tanto?
Bem que eu poderia
deixar aqui - a título de contribuição - o endereço do seu “blog”, mas acho que isso não é correto, pois
acabariam sabendo que você não se chama Íria.
Em consideração ao
teu trabalho de voluntária abnegada e prestativa, vou relevar o cheiro que
predomina no meu jardim. Tenho certeza que as flores que estão por vir acabarão
- na primavera - predominando e a natureza saberá conviver em harmonia.
Os cheiros são suportáveis
e os perfumes inebriam.
(do livro Histórias Soltas - páginas 209 e 210).
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