OS AMORES DO CONQUISTADOR

Não demorou muito para que se tornasse o mais procurado de todas. Só as bonitinhas. As feias e velhas ou não lhe interessavam, ou não eram aceitas. Ele parecia ter mel esparramado pelo corpo, porque quem sentava, não desgrudava mais. 

Já no segundo mês de emprego, todas as escolhidas estavam sobre o seu controle. As novinhas podiam nem ser muito bonitas, as mais de idade precisavam ter beleza. Bem trabalhadas. Discretas e gostarem de amar. Exigia sigilo total, mas como o ser feminino gosta de vangloriar-se divulgando suas conquistas, não demorou muito para que o pessoal ficasse sabendo. A última a ser informada – como normalmente acontece – foi a sua esposa.

Ela passou a receber telefonemas e recebia também mensagens; principalmente de Susi, que – afeita a um sadismo incontrolado – se especializara em descrever os momentos de felicidade que mantinha com o seu esposo.

Márcia – a mais traquejada na arte de ser amante – para manterem-se juntos sem qualquer suspeita -, propôs uma sociedade numa consultoria e, a pretexto de trabalho, se encontravam, dia sim, dia não, numa sala que alugaram no vigésimo andar de um prédio no centro da cidade.

Até a esposa de um policial, bonita, balzaquiana, morena da cor de canela, que logo no início do relacionamento apressou-se em fazer lipoaspiração, engraçou-se por ele. Com essa então, lutou-se pelo sigilo absoluto.  Um policial descobrir que está sendo traído é caixão na certa. Tiveram momentos memoráveis, enquanto o militar sentava praça.

Não demorou muito, tornou-se chefe. As saídas ficaram mais fáceis e frequentes. Um dia era problema no seu escritório particular, outro na consultoria; depois, vieram as reuniões externas e assim, foi alternando prazeres com desculpas de trabalhos.

Os burburinhos foram aumentando entre o pessoal da empresa. Onde estaria Susi, que faltava com tanta frequência? Nos retornos vinha com atestados médicos. Assim acontecia com Márcia e também com a balzaquiana.

Um dia começou a faltar Paula – funcionária recém-casada – que, a pretexto de muitos afazeres domésticos, tornou-se relapsa no serviço. O marido – que passava a semana viajando pelo interior do estado – telefonava-lhe apaixonado sempre no final da tarde e a esposa alimentava-lhe o amor distante com palavras doces e saudosas. Por dois dias consecutivos não a encontrou quando ligava, mas ela justificava as ausências alegando excesso de trabalho.

Os encargos externos do moço precisaram ser aumentados: reuniões na Procuradoria Geral do Estado, anexação de documentos no Fórum, audiências de última hora.

Um dia cedo apareceu a esposa no trabalho do marido. Fez um escândalo na portaria do prédio. Queria conhecer Márcia. Já havia conversado com Susi, mas não sabia nada da esposa do policial, nem imaginava Paula.

Apesar de tudo, ele amava sua esposa, com quem tinha um lindo casal de filhos adolescentes.  Não havia outra saída que não propor uma reconciliação.
Depois de muitos questionamentos e ajuda dos amigos, ela aceitou. Uma semana de águas termais; outra de frutos do mar no litoral de águas azuis e o casal voltou à normalidade e renovado. Amor refeito, juramentos e compromissos acertados. Não dava para se entender porque ele a menosprezara.

Mas como os acertos matrimoniais são rompidos com facilidade depois que acontece a primeira vez, acabo de ser informado que não deu nada certo. Tudo foi quebrado, juramentos desfeitos, propósitos rompidos.

Ele, boa pinta, excelente chefe, companheiro de violão nos encontros dos finais de tarde; estava deixando aquele emprego. Porque decidira "comer a carne no lugar onde ganhava o pão". Despediu-se de todos e partiu contrariado.


Tempos depois comunicou que estava de emprego novo. Lá conheceria novas Susis, Márcias e Paulas. Mas prometeu-se que nunca mais procuraria mulher de policial de quem quase levou um tiro quando a sua predileta, sentindo-se abandonada, contou tudo ao marido.
(Capítulo do livro Histórias Soltas - páginas 48 e 49)

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