ESTÓRIAS E HISTÓRIAS

No meu passeio pela Bahia, visitei Ilhéus.
O avião pousa numa pista curtinha que apavora pelas freadas bruscas que dá. Ela começa no mar e termina no mar, pois está construída numa espécie de península, ocupando o reduzido espaço existente. Quando pousa, os pneus passam a alguns metros da água; ao levantar voo, a pista termina e o avião segue bem pertinho do mar por alguns segundos.
A cidade é famosa por vários motivos: está na região cacaueira do estado, foi palco das principais obras literárias de Jorge Amado, guarda resquícios do seu passado de glórias, é a cidade onde o escritor viveu por longo tempo; a casa onde ele morou encontra-se tombada e transformada em patrimônio público, aberto à visitação.
Pois foi visitando essa casa que fiquei sabendo de uma estória interessante. Foi-me contada pelo guia turístico que nos conduziu pelos cômodos da casa descrevendo suas particularidades.
Todos sabem, na cidade de Ilhéus, dos episódios do livro "Gabriela, cravo e canela".
O bar Vesúvio está lá, exibindo paredes azuis e janelas brancas com uma estátua de Jorge Amado sentado numa cadeira da varanda da frente.
O Bataclan, um prédio bem conservado, não parece mais o local onde os barões iam encontrar-se com suas amadas prostitutas, entregando-se às orgias do sexo e da bebida.
A catedral, que à época áurea do cacau estava sendo construída, encontra-se majestosa e bem ao lado do Vesúvio.
Mas deixa-me contar a estória.
Quando os ricos fazendeiros do cacau, chamados de barões pelos títulos adquiridos em troca de muito dinheiro, vinham para a cidade, traziam consigo suas esposas. A programação das madamas era sempre a mesma: ir à igreja para assistir missa e se dedicarem às orações de agradecimentos pelos benefícios recebidos, pelo bom clima e pelas boas colheitas. Ali passavam longas horas.
Os maridos as conduziam até a porta da igreja e se dirigiam ao bar Vesúvio onde ficavam bebendo, convrsando e aguardando o sinal do padre.
O sinal combinado era as badaladas do sino indicando que a cerimônia ia começar.
Em troca disso, os ricos fazendeiros contribuiam na construção da igreja, financiando torres, vitrais, estátuas e altares caríssimos.
Com o sinal do sino, todos os barões deixavam o bar Vesúvio e, através de um túnel de aproximadamente cem metros, construído para esse fim, atingiam o Bataclan, que ficava na mesma quadra, do outro lado. Ali permaneciam entregues aos prazeres proporcionados por Maria Machadão e suas companheiras.
Quando as cerimônias religiosas estavam por terminar, o padre batia novamente o sino e todos, utilizando-se do mesmo túnel, voltavam para o bar Vesúvio. Ali aguardavam suas esposas chegar, sempre servidos pelo eficiente turco Nacib.
Perguntei onde ficava o telhado sobre o qual Gabriela caminhava, nos seus momentos de êxtase, mas não soube me responder.
Outra coisa interessante: a casa onde Jorge Amado morou foi construída pelo seu pai com o dinheiro ganhado num sorteio de loteria. Mudou-se para a cidade fugindo de uma enchente ocorrida em Itabuna, onde morava. O escritor era menino ainda. Levou sete anos para ser concluída.
O estado da Bahia comprou o palacete já de terceiros e foi doado ao município de Ilhéus que mantem o local.
Estórias e histórias.

Comentários

Anônimo disse…
Quem conhece a Bahia, se apaixona. Seja Ilhéus, Porto, Salvador...
Dá uma vontade de lá voltar.... bj

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